Um relatório recente divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revelou números alarmantes sobre o desperdício de alimentos em todo o mundo. De acordo com o “Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024”, mais de 1 bilhão de refeições são jogadas fora diariamente em domicílios de todos os continentes.
Essa prática contrasta com a realidade de 783 milhões de pessoas afetadas pela fome e um terço da humanidade enfrentando insegurança alimentar. O estudo, publicado nesta quarta-feira (27), durante o evento do Dia Internacional do Resíduo Zero, alerta para os impactos econômicos, sociais e ambientais do desperdício de alimentos.
Veja a seguir:
Relatório mostra desperdício global e a urgência de ações coordenadas
O relatório destaca que, em 2022, foram geradas 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares, representando quase um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores. Surpreendentemente, 60% desse desperdício ocorreu no âmbito doméstico, com os serviços de alimentação responsáveis por 28% e o varejo por 12%. Esses números evidenciam uma tragédia global, onde, enquanto milhões de pessoas enfrentam a fome diariamente, toneladas de alimentos são descartadas sem necessidade.
Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA, ressaltou a gravidade desse cenário, destacando que os impactos do desperdício de alimentos vão além da questão humanitária, afetando também o clima e a natureza. Ela enfatizou que a reversão desse quadro requer ações coordenadas em todos os continentes, visando não apenas a redução do desperdício, mas também a mitigação dos impactos ambientais e econômicos.
Desafios e iniciativas para combater o desperdício
Embora haja um aumento na conscientização sobre o desperdício de alimentos, o relatório aponta que muitos países, especialmente os de baixa e média renda, ainda carecem de sistemas adequados para monitorar e reduzir o desperdício. Apenas quatro países do G20 e a União Europeia têm estimativas precisas sobre o desperdício de alimentos, evidenciando a necessidade de um esforço global coordenado para enfrentar esse problema.
No Brasil, um estudo piloto realizado em 2023 pela Embrapa Alimentos e Territórios revelou que o desperdício de alimentos na etapa de consumo familiar é estimado em 94 kg por pessoa ao ano. Embora os dados sejam restritos ao Rio de Janeiro, eles indicam que o desperdício ocorre em diversos perfis socioeconômicos, exigindo uma investigação mais aprofundada sobre os fatores que contribuem para esse cenário.
Diante desse contexto, o relatório destaca a importância de políticas públicas e parcerias público-privadas para reduzir o desperdício de alimentos. Países como Japão e Reino Unido já demonstraram que é possível alcançar reduções significativas por meio de ações coordenadas. O envolvimento de diversos setores da sociedade, incluindo governos, empresas e organizações não governamentais, é essencial para promover mudanças efetivas e sustentáveis nessa área.
O relatório do PNUMA ressalta a urgência de abordar o desperdício de alimentos não apenas a nível individual, mas também sistêmico. Além de medidas para reduzir o desperdício, é fundamental investir em soluções que promovam a circularidade e a sustentabilidade em toda a cadeia alimentar, visando garantir que os alimentos alimentem as pessoas, não os aterros sanitários.