Vírus ‘zumbis’: entenda o que está acontecendo após 50 mil anos

Os “vírus zumbis” são um conceito que parece retirado de um filme de terror, mas é uma realidade que a ciência está começando a explorar. Esses vírus, que permaneceram congelados em ambientes extremamente frios e isolados por milhares de anos, agora estão se tornando uma preocupação para a comunidade científica devido ao aquecimento global e ao derretimento do permafrost, o solo permanentemente congelado encontrado em regiões árticas e subárticas.

A pesquisa sobre esses vírus é liderada pelo virologista francês Jean-Michel Claverie, da Universidade Aix-Marseille em Marselha. Claverie e sua equipe têm se concentrado no estudo de vírus gigantes que habitam o permafrost, uma camada de solo que permanece congelada a temperaturas de 0°C ou abaixo por pelo menos dois anos consecutivos.

Esses vírus gigantes oferecem um modelo ideal para entender como os vírus podem permanecer viáveis e infecciosos ao longo de milênios.

Possível infecção aos humanos

O virologista Fernando Spilki enfatiza que, teoricamente, não há impedimentos para que isso aconteça, desde que os vírus estejam bem preservados pelas baixas temperaturas. O permafrost pode conter vírus que a humanidade nunca encontrou antes, bem como vírus de outras espécies que podem ter a capacidade de infectar seres humanos.

Embora não haja evidências concretas de que esse processo de descongelamento e ressurgimento viral tenha ocorrido naturalmente, existem indícios de que novos vírus têm emergido em espécies animais selvagens nas regiões polares nos últimos anos. Além disso, há uma hipótese de que doenças como a gripe tenham se originado nessas áreas remotas e sido transmitidas à população humana.

Reativação do vírus em 2014

O trabalho de Claverie ganhou conhecimento quando, em 2014, sua equipe conseguiu reativar um vírus que estava isolado no permafrost, tornando-o infeccioso pela primeira vez em 30 mil anos. Embora tenham sido cuidadosos ao usar um vírus que só afetava amebas unicelulares, essa conquista foi um marco significativo na compreensão da viabilidade desses vírus após longos períodos de congelamento. Posteriormente, em 2015 e em 2023, eles repetiram esse feito com diferentes vírus.

Os vírus mais antigos reativados por Claverie datam de quase 48.500 anos, segundo a datação por radiocarbono do solo. Esses vírus foram encontrados em amostras de terra retiradas de lagos subterrâneos a profundidades surpreendentes, como 16 metros abaixo da superfície.

A incerteza em relação a quanto tempo esses vírus podem permanecer infecciosos e quais as chances de encontrar um hospedeiro em um cenário de descongelamento é uma das preocupações centrais. À medida que o aquecimento global continua a acelerar o derretimento do permafrost e a aumentar a população nas regiões árticas, o risco potencial de um surto viral se torna mais real.