Rio Grande do Sul registra primeira morte por leptospirose após enchentes

O Rio Grande do Sul enfrenta uma grave crise sanitária e ambiental após as enchentes que assolaram o estado desde o final de abril. Uma das regiões mais afetadas pelas cheias, o município de Travesseiro, no Vale do Taquari, confirmou no domingo (19) a primeira morte por leptospirose decorrente do desastre.

A vítima, um homem de 67 anos, faleceu na sexta-feira (17), mas a confirmação da causa da morte pelo governo do estado ainda aguarda resultado laboratorial.

A leptospirose e seus riscos no Rio Grande do Sul

A leptospirose é uma doença infecciosa causada pela bactéria leptospira, presente na urina de roedores. Ela pode ser contraída através do contato com água ou solo contaminados, um risco que aumenta significativamente em situações de enchentes. A doença preocupa as autoridades de saúde devido ao potencial de surtos em regiões afetadas pelas cheias, como o Vale do Taquari.

Os sintomas iniciais da leptospirose incluem febre alta, dor na região lombar ou na panturrilha, dor de cabeça e conjuntivite. No entanto, sinais de alerta como tosse, hemorragias e insuficiência renal indicam a gravidade da doença e a necessidade de tratamento urgente. O Ministério da Saúde recomenda que casos suspeitos de leptospirose sejam tratados imediatamente para evitar complicações graves.

Impacto das enchentes e a resposta das autoridades

As enchentes no Rio Grande do Sul têm causado estragos sem precedentes, afetando 458 cidades, o que corresponde a mais de 90% dos municípios do estado. Com um volume de chuva que ultrapassou 800 milímetros em mais de 60% do território gaúcho, o desastre deixou mais de 500 mil pessoas desalojadas e 77 mil vivendo em abrigos temporários. O número de mortos chegou a 151, com 104 pessoas ainda desaparecidas.

Para entender as causas dessa tragédia, a Radioagência Nacional entrevistou o geólogo Rualdo Menegat, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Menegat explicou que, além da precipitação extrema, a gestão inadequada dos espaços urbanos e a ocupação intensiva do solo agravam os impactos das enchentes. Ele destacou cinco eixos estruturantes para entender o desastre:

  • A grande quantidade de chuva em uma região com vales de rios que escoam a água rapidamente.
  • A desestruturação dos serviços ecossistêmicos naturais, como o avanço das plantações de soja até a margem dos arroios e em áreas alagadiças.
  • A especulação imobiliária que ocupa áreas de extravaso dos corpos d’água e reduz as áreas de proteção ambiental.
  • O desmantelamento da infraestrutura de proteção, incluindo órgãos reguladores e instrumentos de contingência como diques e bombas de água.
  • Uma Defesa Civil ineficiente, que atua principalmente no socorro e não na prevenção, e uma população sem treinamento adequado para agir em casos de desastres.

A resposta das autoridades tem sido focada em socorro imediato e atendimento aos desalojados, mas especialistas alertam para a necessidade de medidas preventivas e de gestão sustentável dos recursos naturais para evitar futuras tragédias. A situação sanitária também exige atenção redobrada para evitar surtos de doenças como a leptospirose, que já fez sua primeira vítima fatal em Travesseiro.