Reportagem especial – Café: a essência que brota de cada raiz

Entre o caos urbano e uma goteira que pinga sobre a mesa, surgem narrativas que transcendem o simples ato de tomar uma xícara de expresso. “O aconchego da casa de ‘vó’ é o que queremos por aqui”, diz Maíra Sette, 38, uma das sócias do negócio.

E, realmente, não há o que duvidar. A casa é decorada por quadros e pinturas clássicas e tradicionais dos anos 90, remetendo-se a ilusão de estar presente em um lar do século XIX.

A Copa Cozinha se faz presente. Localizada no bairro Floresta, na Avenida Francisco Sales, 199, fundada em 2020, é vizinha e parceira de Milton Nascimento; bebe as águas do Santa Teresa, um dos bairros mais tradicionais da região.

A rica herança cafeeira continua a influenciar a paisagem, a economia e até mesmo a culinária de Minas Gerais, evidenciando a importância duradoura dessa cultura do café para a região.

Por trás de cada café servido, há uma história de paixão, esforço e dedicação, moldando o caráter único de cada estabelecimento.

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Copa Cozinha, unidade Floresta, BH. (Fotos: Igor Vieira)

A ideia de três jovens empreendedoras deu certo. Maíra, Julia e Cristina. O trio perfeito para um café de sucesso. Maíra, natural de Belo Horizonte, foi cedo para Resende Costa, interior mineiro; veio novamente para a capital para completar o 2° grau. Cristina Gontijo, 38, a acompanhou e, sua irmã, Julia Queiroz, 33, viria mais tarde para a capital, onde estabeleceram uma grande amizade. E um grande negócio.

“Sempre gostamos das receitas que nossos familiares nos ensinaram. Apesar de ser um desafio aprendê-las, sempre foi prazeroso traduzir o que vivíamos na COPA de nossas casas para nossa cafeteria”, aborda Julia, design de produtos e uma das chefs da casa.

Vem daí as muitas receitas presentes no Copa Cozinha. Uma delas, os famosos ‘Biscoitos de Coco’, que são exclusivos da família de Julia e Cristina. Feitos diretamente de Bom Despacho, interior de Minas, as tias são responsáveis pela produção dessas e outras receitas.

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Biscoitos feitos em Bom Despacho (MG). (Foto: Bernardo Silva)

A Copa Cozinha também é um espaço de oportunidades. Cibele Pereira, por exemplo, encontrou na cafeteria a chance de crescer profissionalmente. “Consegui o emprego por meio de uma conhecida”, conta ela. “Já trabalhei em outro restaurante, mas nunca tive o contato com os clientes como tenho aqui. A Copa Cozinha é o auge da minha carreira.”

O Brasil é responsável por 36,8% da produção de café no mundo e por 62 milhões de sacos de 60 quilos produzidos na safra 2022/2023. Desse número, Minas Gerais é o maior produtor nacional, correspondendo a 50,8% da feitura do país.

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A cada pingo de chuva, uma conversa e uma história. Da esquerda para a direita: Julia, Maíra e Cristina

No estado, a produção de café não é apenas uma atividade econômica, mas parte integrante da história e da identidade do estado. Desde os tempos da política do café com leite, que marcou o período da República Velha com a alternância de presidentes entre São Paulo e Minas Gerais, o café tem sido um pilar fundamental da economia e da cultura mineira, gerando empregos direto e indiretamente.

Mais do que um café, a Copa Cozinha é um negócio que transforma vidas e abraça a tecnologia. A equipe de 15 funcionários diretos e 8 freelancers, além de 2 entregadores fixos, utiliza ferramentas digitais para otimizar processos, ampliar o alcance da marca e oferecer uma experiência ainda mais completa aos clientes.

Por trás do café

Por trás de café servido existe a essência de famílias que trabalham a quilômetros para fazer valer a pena. É o caso Maria do Rosário, com seus 69 anos, e Jair Alves, de 77 anos, dedicando incríveis 50 anos à arte minuciosa de tecer a taboa juntos.

A tradição não apenas perdura, mas também se fortalece na família, pois o casal é responsável pela confecção de cestas para a Copa Cozinha, diretamente de Caxambu, situada a quase 380 km da capital mineira.

Histórias do Copa Cozinha e de um dos seus colaboradores. (Vídeo por Paloma Bailon com trechos de Ricardo Melo)

“Sempre fomos bem sinceras com nossos funcionários e com todos que passam pela Copa Cozinha”, aborda a administradora Cristina. “Temos uma rotatividade baixíssima e, aqueles que um dia já saíram, sempre retornam. Fora aqueles que passam por aqui por 1 ou 2 anos para ganharem experiência. A verdade é que transformamos realidades”, ela diz.

E assim, centenas de pessoas colaboram e são ajudadas pelo negócio, pelo café e pelas histórias. “O café é tudo; a gastronomia é sensorial. Brota no cheiro e isso tem o poder enorme de ativar memórias”. Elas têm razão.