Mesmo sem pandemia, Lula tem déficit quase igual na época do Covid

A pandemia de Covid-19 chegou ao fim, mas o governo atual enfrenta problemas econômicos semelhantes aos daquela época, mas por motivos diferentes. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está passando por uma situação econômica complicada, marcada por um déficit nominal que se aproxima dos níveis observados durante o período mais crítico da pandemia de COVID-19. 

As recentes enchentes no Rio Grande do Sul têm agravado os gastos públicos, levando a um aumento da dívida bruta, que em março de 2024 atingiu 75,7% do PIB. Neste caso, o déficit nominal reflete o balanço entre receitas e despesas da União, incluindo os pagamentos de juros da dívida bruta. 

Em uma tentativa de mitigar os impactos econômicos das enchentes, o Congresso aprovou uma medida que exclui esses gastos das principais regras fiscais, como o marco fiscal sancionado em agosto de 2023. Dessa forma, as despesas relacionadas ao Rio Grande do Sul não serão contabilizadas na meta de resultado primário, que exclui os juros da dívida.

Situação econômica nos últimos meses

No acumulado de 12 meses até março, o Brasil gastou R$ 745,7 bilhões apenas com juros da dívida. O valor é uma das principais razões para o alto déficit nominal, que totalizou R$ 998,6 bilhões no mesmo período. A previsão do mercado financeiro para a dívida bruta foi ajustada para 80% do PIB, uma projeção revisada no Boletim Focus do Banco Central.

O Comitê de Política Monetária (Copom) indicou um possível corte na taxa Selic de 0,25 ponto percentual. Assim, a mediana das estimativas também piorou para os anos seguintes:

  • 2025: de 76% para 76,15% do PIB;
  • 2026: de 77,5% para 78% do PIB;
  • 2027: de 75% para 76% do PIB.

Apesar disso, a manutenção da Selic em níveis elevados desde fevereiro de 2022 tem encarecido o serviço da dívida, contribuindo para o déficit nominal.

Além dos juros, a expansão dos gastos públicos no governo Lula elevou o déficit primário, que não considera o pagamento de juros. Em março de 2024, esse déficit alcançou R$ 252,9 bilhões.

Situação no Rio Grande do Sul 

Especificamente para o Rio Grande do Sul, o governo federal anunciou a suspensão do pagamento da dívida do estado e de seus municípios por três anos, com um impacto estimado em R$ 23 bilhões. Adicionalmente, foram liberados R$ 12 bilhões em créditos extraordinários para socorro às vítimas das enchentes, totalizando R$ 35 bilhões fora das regras fiscais.

Apesar disso, os analistas indicam que a administração atual tem seguido um estilo mais próximo ao da ex-presidente Dilma Rousseff, com maior foco na expansão fiscal. Por isso, medidas como a distribuição de créditos a microempreendedores e intervenções no Rio Grande do Sul têm sido vistas como estratégias para consolidar apoio eleitoral, apesar dos riscos de deterioração das contas públicas.

Para finalizar, a troca na presidência da Petrobras e outras decisões estratégicas também refletem um direcionamento dos recursos para iniciativas com possíveis retornos eleitorais. Essas ações contrastam com os esforços do Banco Central para controlar a inflação através de uma política monetária restritiva.