Gelo do Ártico pode derreter completamente antes do que os cientistas imaginavam

Um estudo publicado na última terça-feira (3) na revista científica Nature Communications sugere que o derretimento total do gelo marinho no Ártico pode acontecer já no verão de 2027. Utilizando modelos computacionais, a pesquisa projetou o momento em que o Oceano Ártico poderia ficar sem gelo, com os cenários mais alarmantes indicando que isso poderia ocorrer dentro de três a quatro anos.

Céline Heuzé, professora sênior de Climatologia na Universidade de Gotemburgo e uma das autoras da pesquisa, explicou que o estudo teve início com milhares de simulações, das quais cerca de 300 foram escolhidas por serem as mais plausíveis. Ela ressaltou que todos os fatores essenciais para o derretimento total do gelo já ocorreram, e a única razão pela qual o fenômeno ainda não aconteceu é a ordem em que esses fatores se manifestaram.

Neste texto você encontrará:

Veja também: Entenda como o degelo do Alasca pode colocar as cidades costeiras do Brasil em risco

Fim do gelo no Ártico

Heuzé também apontou que o aquecimento das correntes oceânicas tem sido fundamental nesse processo, já que contribui para o afinamento da camada de gelo, acelerando seu derretimento por baixo ao longo do ano. No entanto, os dados mais recentes sugerem que, à medida que o gelo marinho diminui, eventos climáticos como ondas de calor e tempestades estão se tornando os principais motores desse degelo acelerado.

  • Previsões para os primeiros dias sem gelo: O estudo sugere que os primeiros dias sem gelo marinho ocorrerão durante períodos de derretimento rápido, associados a invernos rigorosos e aquecimento na primavera.
  • Cenários de previsão: Cenários pessimistas indicam que o primeiro dia sem gelo pode acontecer em três a quatro anos. A maioria das simulações aponta que o primeiro dia sem gelo ocorrerá entre nove e 20 anos após 2023. A previsão é independente das futuras mudanças nas emissões de gases de efeito estufa.

Consequências

Embora o derretimento do gelo em um único dia pareça insignificante, suas consequências são profundas e afetam o Ártico e o clima global.

  • Dependência do ecossistema do gelo marinho: O ecossistema da região depende do gelo marinho para a sobrevivência de diversas espécies: Algas crescem sob o gelo. Ovos de plâncton e bacalhaus polares se abrigam e se protegem nessa camada. Os ursos polares utilizam o gelo como plataforma para caçar.
  • Aceleração do degelo: Após o primeiro dia sem gelo, o processo de degelo tende a se acelerar, com perdas mais frequentes e prolongadas.
  • Efeitos no clima global: A redução do gelo marinho causaria efeitos desestabilizadores no clima, aumentando a ocorrência de eventos climáticos extremos, principalmente no hemisfério norte.

A principal estratégia para retardar o derretimento do gelo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Embora os eventos climáticos extremos já estejam acelerando o degelo, iniciativas para diminuir essas emissões podem ajudar a desacelerar o processo. O estudo conclui que, se o aumento da temperatura global for mantido abaixo de 1,5°C até 2100, ainda será possível evitar a perda total de gelo no Ártico.