Estrelas da Via Láctea exalam uma espécie de “fumaça”

No coração imenso da Via Láctea, cientistas recentemente fizeram uma descoberta notável que lança nova luz sobre os processos estelares dentro de nossa galáxia. Uma classe até então desconhecida de estrelas, carinhosamente apelidadas de “velhas fumantes”, foi identificada por uma equipe de pesquisadores, revelando um fenômeno intrigante que desafia as expectativas convencionais da astronomia.

Essas estrelas, que permanecem inativas por longos períodos, surpreendem ao exalarem uma espécie de fumaça cósmica, adicionando um elemento de mistério e complexidade ao entendimento das últimas fases da vida estelar.

A descoberta, detalhada em um estudo publicado na Royal Astronomical Society, revela que até o momento foram identificadas 21 dessas estrelas “velhas fumantes”, e os cientistas suspeitam que há muitas mais a serem descobertas.

Este grupo de astros, classificado como gigantes vermelhas, está em uma fase avançada de sua “vida”, caracterizada por uma grande expansão e baixa temperatura superficial. A observação dessas estrelas ocorreu no âmago da Via Láctea, em uma região densa e rica em metais conhecida como Nuclear Stellar Disc.

Saiba mais sobre a pesquisa

A equipe de pesquisa, originalmente focada na identificação de protoestrelas, fez a descoberta enquanto examinava centenas de milhões de estrelas ao longo de uma década. Utilizando o telescópio Vista, no Chile, os cientistas inicialmente buscavam protoestrelas, conhecidas por suas erupções frequentes. No entanto, além de encontrar 32 protoestrelas, o estudo revelou a presença surpreendente das “velhas fumantes”, enriquecendo assim nossa compreensão sobre os complexos fenômenos estelares que ocorrem no núcleo da galáxia.

Imagem de uma das estrelas velhas fumantes

Essas estrelas permanecem inativas durante longos períodos, antes de subitamente exalarem uma espécie de fumaça cósmica. Esse comportamento, até agora único, apresenta uma curiosa oscilação de até 100 vezes em sua luminosidade, tornando-as praticamente indetectáveis durante suas fases de inatividade. Os cientistas teorizam que nuvens de fumaça temporariamente ocultam essas estrelas, embora os componentes exatos dessa poeira estelar ainda permaneçam desconhecidos.

Dante Minniti, da Universidade Andrés Bello, explica que a coloração avermelhada pálida dessas gigantes vermelhas pode torná-las difíceis de serem visualizadas. Durante a pesquisa, o grupo de cientistas liderados pelo astrofísico Philip Lucas, da Universidade de Hertfordshire, destaca a surpresa de encontrar o maior número de protoestrelas em um único grupo, simultaneamente à descoberta das “velhas fumantes”.

A localização dessas estrelas, próxima ao centro da Via Láctea, na região do Nuclear Stellar Disc, indica uma possível correlação entre a densidade de elementos pesados na região e a formação da misteriosa fumaça cósmica. A equipe acredita que a matéria ejetada por essas estrelas desempenha um papel significativo na dispersão de elementos pesados por toda a galáxia e além, adicionando uma dimensão adicional ao papel das estrelas no enriquecimento químico do espaço interestelar.

Enquanto os cientistas continuam a investigar para compreender melhor esse fenômeno intrigante, a descoberta das estrelas “velhas fumantes” abre uma janela fascinante para os mistérios ainda não revelados nos confins do cosmos.