Esquadrilha da Fumaça salvou avião com 110 pessoas a bordo

Em um evento que parece tirado diretamente de um thriller de Hollywood, no dia 29 de setembro de 1988, o Brasil parou para acompanhar a notícia de um sequestro aéreo com motivações políticas. Raimundo Nonato Alves da Conceição, um tratorista desempregado de 28 anos, tomou o controle do voo Vasp 375, armado com um revólver e muitas munições com o objetivo declarado de atingir o Palácio do Planalto. Coube a um movimento tradicional da Esquadrilha da Fumaça ser a peça fundamental para salvar a tripulação.

A ação drástica de Conceição foi motivada por sua frustração com a grave situação econômica do país na época, que o levou a perder seu emprego. Com uma inflação mensal que rondava 17,7% e taxas de desemprego entre 9% e 11%, segundo dados do Dieese-Sead de 1988, o ex-tratorista culpava diretamente o governo de José Sarney pela sua situação e pela deterioração das condições de vida da população brasileira.

O sequestro do Vasp 375

Sem um plano muito claro ou conhecimento dos procedimentos aeronáuticos, Nonato apenas instruiu o comandante Fernando Murilo a mudar a rota da aeronave para Brasília. Armado e atirando contra a porta da cabine, o sequestrador conseguiu fácil acesso após os pilotos decidirem que era melhor permitir a entrada do atirador do que perder algum instrumento importante durante os disparos.

Ao tentar pegar o rádio para responder um chamado da torre, o copiloto Salvador Evangelista foi assassinado com um tiro na cabeça. Após isso, restou ao comandante Fernando Murilo assumir o voo por instrumentos e iniciar uma tentativa de negociação com o sequestrador.

Risco de abate e desvio de rota

Cientes da situação, os comandantes do sistema aéreo emitiram um alerta para a aeronáutica. Enquanto se aproximava de Brasília, o voo passou a ser escoltado por um caça. Já com níveis alarmantes de combustível e com um alerta de abate, o comandante tomou a decisão de entrar em nuvens e afirmar para o sequestrador que seria impossível pousar em Brasília.

Discutindo com Nonato, o piloto Fernando Murilo conseguiu autorização para desviar para Goiânia e tentar um pouso na cidade, evitando assim o abate por parte do caça que já estava com a autorização.

Perto do novo destino, após o sequestrador exigir uma nova mudança de rota (algo considerado praticamente impossível pelo baixo nível de combustível), coube ao comandante usar sua admiração pela esquadrilha da fumaça para salvar toda a tripulação.

Fernando Murilo e a esquadrilha da fumaça

Com o comportamento errático do sequestrados, que já não concordava mais com o pouso em Goiânia (apesar de ser avisado sobre o baixo nível de combustível), o comandante precisou usar recursos ousados (e inéditos na aviação).

Em movimentos clássicos da Esquadrilha da Fumaça, Fernando Murilo iniciou um tunô (tonneau), que é um giro completo do eixo longitudinal do avião, sem mudar a direção, ou seja, um giro da aeronave em que o voo chega a ficar de cabeça para baixo.

Sem conseguir derrubar o sequestrador, que conseguiu se segurar nas cortinas, o piloto precisou fazer nova manobra acrobática. Fernando Murilo iniciou uma queda em parafuso, dessa vez conseguindo derrubar Nonato. Essa última manobra quase foi fatal por conta do corpo do copiloto, que caiu no manche e dificultou a retomada do controle por parte do comandante, que precisou usar os pés para auxiliar na força durante a puxada.

O canal Aviões e Músicas fez uma simulação da manobra:

A Boeing, fabricante da aeronave, um 737-300 clássico, não reconhece a manobra e diz ser impossível realizar o que é relatado pelo piloto, passageiros e pelo caça que acompanhava o sequestro.