Dólar já acumula ganhos de 9% em 2024; entenda a alta da moeda e o que esperar do futuro

Desde o início de 2024, o dólar tem mostrado uma trajetória de alta significativa, recuperando as perdas dos últimos dois anos. Com um aumento de 0,23% no fechamento mais recente, a moeda norte-americana acumulou ganhos de 9,16% até agora em 2024, compensando a perda de 8,06% registrada em 2023.

Diversos fatores influenciam essa valorização, entre eles a política monetária dos EUA, a balança comercial brasileira e o quadro fiscal do Brasil. Vamos entender como cada um desses elementos impacta a cotação do dólar e o que podemos esperar para o futuro.

Dólar.
28/08/2018. REUTERS/Marcos Brindicci,dólar

A política monetária dos EUA e seu impacto

Um dos principais fatores que explicam a força do dólar em 2024 é a política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. A instituição tem postergado o início do ciclo de cortes de juros devido a sinais de um mercado de trabalho aquecido e uma atividade econômica ainda robusta, que continuam a gerar preocupações sobre a inflação. Inicialmente, o mercado esperava que o Fed começasse a cortar os juros em maio, mas agora a maioria aposta que isso só ocorrerá em setembro.

Essas mudanças nas expectativas sobre os juros aumentam a incerteza econômica, o que leva os investidores a buscar o dólar como um ativo seguro, elevando sua demanda e, consequentemente, seu valor. Em maio, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) votou pela manutenção das taxas de juros no intervalo entre 5,25% e 5,50%, o maior nível desde 2001, reforçando a atratividade do dólar em tempos de incerteza.

Balança comercial brasileira: desafios e influências do dólar

Outro fator que tem influenciado a alta do dólar é a piora da balança comercial brasileira. Em 2022, a balança comercial do Brasil registrou um superávit recorde de US$98 bilhões. No entanto, em 2023, a situação se reverteu, com uma queda nas exportações de minério de ferro e petróleo devido à menor demanda externa. 

Quando as exportações caem e as importações aumentam, há uma saída maior de dólares do país, o que pressiona a valorização da moeda norte-americana. Além disso, a menor demanda internacional está relacionada às movimentações de juros nos EUA, que afetam a liquidez global. A precificação do mercado, que agora espera cortes de juros somente no segundo semestre, contribui para a diminuição da liquidez internacional e impacta negativamente a balança comercial brasileira.

Quadro fiscal do Brasil e perspectivas futuras

O quadro fiscal do Brasil também tem contribuído para a desvalorização do real. Em abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma revisão na projeção fiscal, com a previsão de déficit zero para 2025, em vez do superávit de 0,5% do PIB previsto anteriormente. Essa mudança sugere uma postura fiscal menos austera, aumentando a incerteza econômica e afetando negativamente a confiança dos investidores.

Segundo especialistas, como Matheus Pizzani da CM Capital e Marco Caruso do Picpay, o cenário atual sugere pouca margem para uma mudança significativa no curto prazo. A expectativa é que o Fed mantenha as taxas de juros inalteradas nos próximos meses, enquanto a balança comercial brasileira deve continuar apresentando fraco desempenho. Além disso, a variação negativa dos preços das commodities e a menor demanda internacional devem continuar a pressionar a valorização do dólar frente ao real.