Cidade no nordeste do Brasil corre o risco de ser extinta

Uma pequena cidade nordestina enfrenta uma ameaça silenciosa que pode resultar em seu desaparecimento nos próximos anos. Buriticupu, localizada a cerca de 400 km da capital São Luís, no Maranhão, tem sido assolada por voçorocas, um processo agressivo de erosão do solo que tem aumentado a insegurança dos moradores locais.

O problema das voçorocas não é novo em Buriticupu, persistindo por pelo menos três décadas. No entanto, a situação se intensifica durante o período de chuvas, quando o solo encharcado acelera o processo erosivo. Atualmente, a cidade enfrenta cerca de 26 voçorocas, cada uma representando um risco iminente para a comunidade local.

Os incidentes relacionados às voçorocas em Buriticupu são frequentes. Em maio de 2023, uma casa foi engolida por uma das crateras no bairro de Vila Isaías, embora não tenha havido vítimas, pois a área já havia sido evacuada. Pouco antes desse incidente, o policial militar aposentado José Ribamar Silveira teve um encontro assustador com uma voçoroca enquanto dirigia sua caminhonete, caindo em um buraco com impressionantes 80 metros de profundidade, resultando em fraturas.

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Imagens da voçoroca em Buriticupu, Maranhão. Na imagem a cratera se aproxima da região urbana, atingindo casas e desabrigando famílias. (Reprodução/Estadão)

O que dizem especialistas? 

A geóloga Amanda Lima da Silva, mestre em Geociências e Energia pela Royal Holloway University of London, explica que as voçorocas são o resultado final de um longo processo de erosão avançada do solo, que geralmente ocorre em áreas próximas às drenagens. Dessa forma, o processo, também conhecido como erosão hídrica, é acelerado pela água, tornando-se mais evidente durante as chuvas.

O desmatamento é um fator crucial para o surgimento das voçorocas. Buriticupu, que já foi coberta por uma densa floresta amazônica, hoje apresenta um aspecto árido e pedregoso. Nas décadas de 1990, mais de 50 serrarias operavam 24 horas por dia na região, contribuindo para a degradação ambiental.

A urbanização desordenada e o desmatamento têm contribuído significativamente para o avanço das voçorocas em Buriticupu. A expansão urbana na cidade maranhense tem fragilizado o solo, tornando-o mais suscetível à erosão. Além disso, a inclinação natural do terreno em áreas urbanas favorece o surgimento dessas formações erosivas.

Situação em Buriticupu 

A situação em Buriticupu não é isolada, sendo um reflexo de um problema maior em diversas regiões do Brasil. Além disso, casos semelhantes têm sido observados em cidades como Teófilo Otoni, em Minas Gerais, onde a urbanização e as atividades agropecuárias têm contribuído para o surgimento das voçorocas.

Embora o Brasil seja o país mais afetado na América Latina, países como Argentina, Colômbia, Equador e México também enfrentam problemas semelhantes. Na África, países como Angola, República Democrática do Congo e Nigéria também lidam com essa crise geológica.

Em Buriticupu, não há dados oficiais sobre mortes relacionadas às voçorocas, mas já se registrou o desaparecimento de ao menos 50 casas. Até o momento, centenas de pessoas foram forçadas a abandonar suas residências, criando quarteirões inteiros vazios na cidade.

A prefeitura prometeu pagar o aluguel das casas provisórias, mas os atrasos constantes no repasse do dinheiro têm gerado ameaças de despejo. Diversas famílias tiveram sua casa classificada como de alto risco pela Defesa Civil local, devido à proximidade com uma voçoroca larga e profunda. Ao longo dos anos, 100 famílias foram obrigadas a deixar suas casas e se mudar para outras áreas da cidade.

A mudança climática, com chuvas extremas, também tem agravado o problema. Nos primeiros meses de 2023, o Estado do Maranhão enfrentou uma das piores enchentes de sua história, afetando mais de 60 cidades e deixando milhares de pessoas desabrigadas. Por enquanto, a cidade aguarda por medidas do governo para evitar que a situação se agrave nos próximos anos, levando ao fim da cidade.