Argentinos estão vendendo joias de parentes para sobreviver

A Argentina está enfrentando uma de suas maiores crises nos últimos meses. Em Buenos Aires, capital do país, a população começou a vender jóias de familiares e parentes para sobreviver, demonstrando o desespero das pessoas devido à crise econômica, sendo o último recurso encontrado por muitos argentinos. 

As jóias estão sendo vendidas, em sua maioria, por necessidade dos donos, que acabam pegando jóias antigas, que foram presentes dos avós, para conseguir alguma quantia em dinheiro para conseguir pagar as dívidas ou até mesmo se alimentar. 

“Os afetos ficam de lado quando as dívidas te sufocam”, diz Mariana, uma jovem que trocou, por dinheiro, o relógio que o avô deu ao pai quando ele se formou. Ela informou também que o salário como funcionária judicial não é mais suficiente para cobrir as despesas da casa, que estão muito acima do normal devido a inflação de quase 300% em comparação ao ano anterior. 

Embora ela tenha preferido não revelar a quantia recebida durante a venda do relógio, ela disse que pretende usar o dinheiro para “cobrir dívidas de despesas (gastos de moradia) e diversos atrasos de contas pré-pagas (medicamentos)”.

El Tasador é uma das principais casas de compra e venda de jóias em Buenos Aires e está recebendo centenas de pessoas todos os dias na mesma situação. A história de Mariana é apenas uma entre muitas outras. 

Compra e venda das jóias

Nos últimos dias, tem sido comum encontrar locais comprando jóias, sobretudo ouro, na região de Buenos Aires. Em El Tasador, diversos clientes aguardam para vender as jóias todos os dias. Em entrevista, uma das quatro avaliadoras do local disse: “Tem havido muita gente ultimamente, acho que por causa do que está acontecendo no país, pessoas que talvez tivessem peças que não planejavam vender e decidem fazê-lo porque não conseguem pagar as contas”. 

Ao todo, 300 transações são realizadas todos os dias. A loja informou que o número é três vezes maior em comparação com 2023. “Desde janeiro, o número de pessoas que vêm ao nosso salão começou a aumentar. Ampliamos a capacidade e o horário porque não estávamos dando conta”, diz a avaliadora.

Além disso, as emissoras de televisão do país estão transmitindo programas de avaliação patrocinados por joalherias de todo o país, sendo uma das estratégias de marketing utilizadas devido à forte concorrência, que também aumentou devido à procura da população.

Recessão econômica na Argentina 

A economia da Argentina registrou uma retração de 1,4% em março, conforme dados ajustados sazonalmente do Estimador Mensal de Atividade Econômica (Emae), divulgados pelo instituto oficial de estatísticas, Indec. 

Quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi ainda mais acentuada, alcançando 8,4%. Esse desempenho negativo resultou em uma diminuição de 5,3% no PIB do primeiro trimestre de 2024 em relação ao trimestre anterior, colocando o país em uma recessão técnica após dois períodos consecutivos de retração econômica.

O Emae apontou que, em março, houve uma variação entre os setores. No comparativo anual, seis setores apresentaram crescimento, com destaque para Agricultura, Pecuária, Caça e Silvicultura, que cresceram 14,1%, e Mineração, com um aumento de 5,9%. 

Por outro lado, setores como Construção e Indústria de Transformação sofreram grandes quedas, de 29,9% e 19,6%, respectivamente. Além disso, o Comércio Atacadista e Varejista também apresentou uma redução considerável de 16,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Devido à recessão econômica no país, muitas famílias estão liquidando os “dólares de colchão”, nome utilizado para quem tem moeda estrangeira guardada em casa, sendo um reflexo da queda do consumo, milhares de demissões e aumentos de tarifas em serviços essenciais.

Por enquanto, a situação na Argentina é complicada e segue sem expectativa de melhora e as pessoas estão fazendo o necessário para conseguir dinheiro para sobreviver.